O pterígio é uma condição ocular caracterizada pelo crescimento de um tecido carnoso e vascularizado sobre a córnea. Esse avanço anormal da conjuntiva pode parecer inofensivo no início, mas em muitos casos compromete seriamente a saúde ocular, levando a desconforto visual, alterações refrativas e até perda de qualidade de vida.
Especialmente comum em regiões com alta incidência solar, o pterígio tem sido associado a fatores ambientais, genéticos e comportamentais. Embora seja uma lesão benigna, a progressão desse tecido pode interferir diretamente na visão central, causando distorção da imagem e impactando a rotina de quem convive com o problema.
Com o apoio técnico do oftalmologista Dr. Aron Guimarães, este artigo apresenta um panorama completo sobre as causas do pterígio, quem está mais propenso a desenvolvê-lo, os principais sintomas e os recursos atuais para prevenção e tratamento eficaz. A seguir, entenda o que realmente provoca o pterígio no olho e como se proteger antes que os danos se tornem irreversíveis.
O que é o pterígio e como ele se forma
O pterígio é uma lesão que se origina na conjuntiva bulbar, geralmente na parte interna do olho próxima ao nariz, e que progride em direção à córnea. Seu formato costuma ser triangular, com a base voltada para o canto interno do olho e o ápice direcionado à pupila. Esse crescimento desordenado de tecido é composto por fibroblastos, vasos sanguíneos e células inflamatórias.
O desenvolvimento do pterígio está associado a alterações celulares causadas por estímulos externos, como a radiação ultravioleta, agentes irritantes e desequilíbrios na lubrificação ocular. Com o tempo, esse processo inflamatório contínuo estimula a formação de novos vasos e a proliferação de tecido conjuntival, que invade a córnea e pode causar irregularidades em sua superfície.
Em casos mais avançados, o pterígio induz astigmatismo pela distorção mecânica da curvatura corneana. Quando atinge o eixo visual, a visão torna-se embaçada e o paciente pode experimentar desconforto visual permanente.
Causas principais do pterígio ocular
As causas do pterígio envolvem uma combinação de fatores ambientais, genéticos, ocupacionais e comportamentais. A seguir, detalhamos os elementos mais associados ao desenvolvimento da condição.
Exposição solar intensa e prolongada
A principal causa do pterígio é a exposição crônica à radiação ultravioleta, especialmente do tipo UVB. Essa radiação danifica as células epiteliais da conjuntiva e ativa mediadores inflamatórios que contribuem para o crescimento anormal do tecido. Regiões geográficas próximas ao Equador, com incidência solar alta durante o ano todo, apresentam maiores índices da doença.
Pessoas que não utilizam proteção ocular adequada estão mais vulneráveis, especialmente aquelas que passam muitas horas ao ar livre sem óculos escuros com filtro UV. O sol refletido em superfícies como água, areia ou concreto potencializa ainda mais os efeitos da radiação.
Condições ambientais desfavoráveis
Ambientes com muito vento, poeira, fumaça, poluição e partículas suspensas no ar representam fatores irritantes que agravam o risco de inflamação ocular. O contato repetido com esses agentes pode desestabilizar o filme lacrimal e induzir alterações degenerativas na conjuntiva.
Regiões áridas ou urbanas, com alta concentração de poluentes, favorecem a evaporação das lágrimas e aumentam a sensibilidade da superfície ocular, o que facilita a instalação do pterígio.
Fatores genéticos e predisposição familiar
Estudos populacionais demonstram que existe uma predisposição genética significativa para o desenvolvimento do pterígio. Pessoas com histórico familiar têm maior propensão à doença, independentemente do ambiente em que vivem.
Pesquisas genéticas recentes identificaram alterações em genes relacionados à angiogênese e à resposta inflamatória ocular. Isso sugere que indivíduos geneticamente predispostos desenvolvem pterígio com maior facilidade, mesmo em exposições solares moderadas.
Ressecamento ocular crônico
A síndrome do olho seco, caracterizada pela redução ou má qualidade da produção lacrimal, também está relacionada à formação do pterígio. O ressecamento constante da superfície ocular altera o ambiente fisiológico da conjuntiva, tornando-a mais suscetível a lesões inflamatórias e degenerativas.
O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como celulares e computadores, contribui para a evaporação das lágrimas e para o agravamento do quadro. Em ambientes com ar-condicionado ou calefação, a situação se intensifica.
Profissões de risco
Trabalhadores que atuam em áreas externas e ficam expostos ao sol, vento e poeira sem proteção adequada estão no topo da lista de risco. Isso inclui agricultores, pescadores, operários da construção civil, carteiros, policiais de rua, ciclistas, entre outros.
A exposição repetitiva sem óculos de proteção acelera o processo inflamatório e aumenta a chance de surgimento do pterígio ao longo dos anos. O tempo acumulado de exposição é mais relevante do que episódios pontuais.
Sinais e sintomas que indicam a presença do pterígio
Embora o pterígio possa permanecer assintomático nas fases iniciais, o avanço da lesão tende a provocar sintomas oculares crescentes. O desconforto começa com uma sensação de corpo estranho no olho, que muitos pacientes descrevem como areia ou cisco. Esse sintoma está geralmente associado à vermelhidão, lacrimejamento e fotofobia.
Com o tempo, a lesão pode causar astigmatismo induzido, prejudicando o foco visual e levando à visão embaçada. Em casos mais avançados, a invasão da córnea pode gerar opacificação, dificultando a passagem da luz e reduzindo a acuidade visual.
Entre os principais sintomas relatados estão a ardência persistente, o desconforto ao piscar, a dificuldade para manter os olhos abertos sob luz intensa e a presença visível da massa carnosa no canto interno do olho.
Diferença entre pterígio e outras alterações oculares
É comum a confusão entre pterígio e pinguécula, outra alteração da conjuntiva. A principal diferença está na localização e no comportamento da lesão. A pinguécula é uma protuberância amarelada que se forma na esclera, próxima à córnea, mas sem invadi-la. Ela costuma ser assintomática e não compromete a visão.
O pterígio, por outro lado, apresenta crescimento progressivo em direção à córnea, podendo causar distorções visuais e exigir cirurgia. Embora ambas as condições compartilhem fatores de risco semelhantes, o pterígio é mais agressivo e requer acompanhamento rigoroso.
Como prevenir o pterígio de forma eficaz
A prevenção do pterígio baseia-se, sobretudo, na redução da exposição aos fatores desencadeantes. A medida mais eficaz é o uso regular de óculos escuros com proteção contra raios UVA e UVB, que bloqueiam a radiação prejudicial e preservam a integridade da conjuntiva.
Além dos óculos, o uso de chapéus com abas largas e bonés ajuda a reduzir a incidência direta de luz nos olhos. Pessoas que trabalham ao ar livre devem utilizar equipamentos de proteção ocular específicos, como viseiras, óculos envolventes ou máscaras.
A lubrificação dos olhos com colírios hidratantes também é recomendada, especialmente em ambientes secos, com ar-condicionado ou poluição. Evitar o hábito de coçar os olhos, higienizar corretamente as mãos e realizar consultas oftalmológicas periódicas são atitudes fundamentais para manter a saúde ocular em dia.
Quando a cirurgia é necessária
O tratamento do pterígio varia conforme a gravidade da lesão. Em casos leves, sem comprometimento da visão, o controle pode ser feito com colírios lubrificantes e anti-inflamatórios prescritos pelo oftalmologista. Entretanto, quando a lesão progride, torna-se volumosa ou afeta a córnea de forma significativa, a cirurgia é indicada.
O procedimento cirúrgico consiste na remoção do tecido anormal e na realização de um enxerto de conjuntiva saudável no local afetado. Esse enxerto reduz a chance de recidiva, que é comum quando a cirurgia é feita sem reposição de tecido. Técnicas mais modernas utilizam adesivos biológicos no lugar de pontos, o que acelera a recuperação e melhora os resultados estéticos.
A cirurgia é ambulatorial, feita com anestesia local e rápida recuperação. No entanto, é essencial manter o uso de colírios anti-inflamatórios e seguir à risca o pós-operatório para evitar complicações ou o retorno da lesão.
Avanços recentes no diagnóstico e no tratamento do pterígio
Nos últimos anos, a oftalmologia tem investido em novas tecnologias para tornar o diagnóstico mais preciso e o tratamento mais eficiente. Equipamentos de imagem de alta resolução permitem o mapeamento detalhado da área afetada, permitindo intervenções menos invasivas.
Além disso, estão em estudo terapias com agentes antiangiogênicos, que inibem a formação de vasos sanguíneos e reduzem a inflamação local. A mitomicina C, uma substância quimioterápica aplicada durante a cirurgia, tem se mostrado eficaz na prevenção da recidiva, quando usada em concentrações controladas.
Técnicas de transplante conjuntival cultivado em laboratório também vêm sendo desenvolvidas, permitindo maior compatibilidade e menor risco de rejeição.
Impacto do pterígio na qualidade de vida
O pterígio pode ter efeitos significativos na autoestima, especialmente quando a lesão é visível e altera a aparência do olho. Muitos pacientes relatam constrangimento social, insegurança em ambientes profissionais e prejuízo em atividades rotineiras como dirigir ou usar o computador por longos períodos.
Para além da estética, o desconforto constante, a fotofobia e a instabilidade visual interferem na produtividade e no bem-estar emocional. Por isso, o tratamento deve considerar também os aspectos psicossociais da doença, promovendo acolhimento e orientação ao paciente.
Considerações finais
O pterígio é uma condição ocular frequente, especialmente em regiões com intensa exposição solar e condições ambientais adversas. A principal causa do seu surgimento está na radiação ultravioleta, mas outros fatores como predisposição genética, ressecamento ocular e irritantes ambientais também contribuem.
A melhor forma de evitar complicações é por meio da prevenção, com proteção solar adequada, lubrificação ocular constante e acompanhamento oftalmológico regular. O diagnóstico precoce é fundamental para impedir o avanço da lesão e preservar a saúde visual.
Nos estágios iniciais, o controle clínico pode ser suficiente. Nos casos mais severos, a cirurgia moderna oferece excelentes resultados, com baixo risco e rápida recuperação. Com conhecimento, prevenção e acesso à saúde, é possível manter os olhos protegidos e afastar os riscos dessa condição silenciosa, mas impactante.
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